domingo, 26 de outubro de 2025

Rascunho



Rascunho

Atirando na barraca
d´um decadente parque de diversões
Com espingardas de ar comprimido enferrujadas
Estilhaçando
velhos Cascos de cervejas
vazias
Vejo você
- lá no alto -
Sorrir
A roda-gigante
Para no firmamento
Luzes de néon de antigos prédios
- concretizados -
Distorcem seu sorriso
Enquanto Você acena pra mim
Juntamos alguns trocados
Moedas de cobre
Durante a semana
Para achar Alguma diversão
E aturar
Os falsos sorrisos
semanais.
8 horas por dia
Enquanto eu gostaria
de estar deitado contigo
Alisando seus Calcanhares...
2.400 minutos de angústia
& Desespero
Para chegar em casa,
te ver deitada na cama
Acariciando Nosso felpudo Animal
Suportar o Cotidiano
Pra ver suas Córneas Brilhando
ao Barulho
Da porta Descolando do batente de mármore
do bairro Oriental
Da cidade mais setentrional
Do seu
- ponderoso -
coração.

Rodrigo Chagas
26/10/25

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Pobre coitado
seu roto vestido
rasgado em mil pedaços
estraçalhado aos ventos
vou ao quarto & desligo a tv
corpos esquartejados
num lodaçal
perto 
do canal
da rua principal
Juca
José
Engulho
corvos
grasnam
ao meio dia
sorvo
um pouco de iodina
tudo fica um pouco melhor
os 
vitrais
ficaram 
roxos
a cortina
cedeu
ao peso
da 
-fria-
corrente de ar
minha
mãe gritou
em plenos 
pulmões
o vidro
se partiu
e minha língua
foi em duas direções opostas
João sacode o livro 
sagrado 
cita
sua passagem 
favorita
esse é o versículo
em que um deus
frita um ovo
na cabeça de um
anão gigante
e Ana grita em perigo
que seres imaginários
roubam sua visão
e sorri para Pedro
jogar uma pedra no poço em que cuspimos mais cedo
insultos contra demônios
e monges decapitados
Pai
leve-me ao hospital
e costure minhas 
entranhas
está na hora de partir
Ice a vela
antes que o peregrino
volte
e coma o resto do jantar sagrado das 7 horas
Vamos!
Está na hora.
Nem sei onde jogamos os restos mortais
dos ossos sagrados
Um relicário qualquer
num santuário empoeirado
Vamos...abandone a mim & o poema
nãos vês que a sessão acaba de começar
e ao perder o início
o final será prejudicado
pelo seu atraso.

Rodrigo Chagas
17/10/25

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Sempre não chegamos
nos lugares
errados
nos piores momentos?
para que se preocupar agora...
Não estivemos perdidos
todos esses anos
tempos devastados
áridos oceanos
de poeira cósmica?
Sempre mentimos pr´a nós mesmos
que conseguiremos depois
só para ter que dormir
um sonho digno
ao acordar
com a cabeça latejando
com o despertador
gritando
para despertar.
Pra que temer?
é um beco sem saída
para que tudo leve
quem sabe
...ao dobrar a esquina - asfaltada...
o sol não brilhe novamente
através
da
- velha -
nuvem carregada
de trovões
& tempestades.

Rodrigo Chagas
14/08/25

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Você & eu

ouvindo

as bétulas

despedaçadas

Quem diria

que um dia

estaria tão velho

gordo e careca 

quanto o velho Syd

vc abandona minha mão

a velha crepitante fogueira 

luta

contra a imensa escuridão

vc corre nua até o lago

vejo a penumbra

afastar a doce lua

seus quadris se engasgam

minha garganta se contorce

o verde céu

o mar de jade

uma velha piada

um dente que se parte

uma mão que se estende

gritando adeus

zumbidos que matam o ensurdecedor silêncio

um solo que beija 

uma cabeça caída no chão

sou apenas alguém 

perdido

por atenção...

e nem assim você notaria 

o fechar da porta

das moscas

vagueando

pelo salão

principal.


Rodrigo Chagas

01/08/25.

terça-feira, 1 de julho de 2025

Poema Inacabado


quinta-feira, 10 de abril de 2025



Como jipes abatidos que nunca chegaram a guerra
vi seu câncer
explodir
através d´um pote de vidro 
de maionese Hellmann's
Tão grande quanto uma enorme maçã
marrom apodrecida...
Na branca parede da cozinha
escorreu o amarelado líquido
que outrora afogava 
o duro objeto
que habitava
- dolorosamente- 
dentro de ti
Todos se despedem
ao dobrar a esquina
no final da larga rodovia
Roubei um longo adeus
na drogaria
perto de casa
chamei uma nova canção
de "rubores encaixotados"
Minha mãe pediu-me
pra apagar a luz...
a escuridão 
sempre trouxe monstros adormecidos
no sótão
da cisterna
do lado externo 
da casa vizinha
Carrego um pedaço enegrecido 
- & petrificado -
do seu antigo fígado
amarelado
Frito um ovo numa faixa dourada
do sol de outono
Caminho até o batente
...da porta...
Estou sozinho
sem saber qual
passo dar...
Sigo o líquido
bilial do seu sorriso
evaporando sob
as marcas do meu
desgastado
tênis
azul.

Rodrigo Chagas
10/04/25

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Minha mãe ligou-me hoje cedo
- despertei atordoado -
Tia Flora havia morrido...
antes de desligar - ainda - me disse
"Não esqueça do casamento de sua prima Nora semana que vem"
Nem tive tempo
de contar o sonho dourado que tive
em que meus pés
eram feitos de bronze
& asas de cetim
saltavam plumas
aveludadas...
Falou-me tanto,
eu nada disse.
Tia Flora
embalando a
balança
até ferir-me
o joelho
ao debater-me
no
duro solo.
Abraçou-me
soprou a
dor e a ferida.
Assim foi-se Tia Flora
num telefonema
de domingo...
A ducha estava
fria
o ovo mexido gelado,
nem ao menos o café requentado
tinha gosto de ontem.
Coitada
Tia Flora & seu dente dourado
como os sábados
no parquinho do Bonfim.
Paro de choramingar
e o sol nos meus olhos
penetra minha catarata.
A atriz gorda sorri na televisão
Seguro-me na poltrona
& me levanto para segunda-feira.

Rodrigo Chagas.
04/12/24.