terça-feira, 11 de junho de 2024


Na ponta dos pés
tentando tocar o firmamento
assim
estava
você
quando nos conhecemos.
tolamente
pedi para acender
o seu cigarro
meu peito
em combustão
vulcânica
tossiu seu nome.
dentes amarelos
sorrindo
dizendo
o quão
tolinho
eu
era.
Calcei seus pés sujos & machucados
sem nem ao
menos lavá-los numa branca bacia esmaltada
para poder jogar
a água suja pela janela acima
& acertar o vizinho que
estridentemente
ouvia algo
sujo
que incomodava a nós 2.
Um par
de meias
furadas
naufragava
na tempestade
n´um longo varal azul.
Ligamos a luz
para afastar as baratas
deixamos as portas abertas
& as gavetas vazias.
Desvio o caminho do seu olhar
e erramos de direção.

Rodrigo Chagas
12/06/24

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Vim até aqui para ver
a beleza
- & a (im)perfeição -
do seu corpo desnudo...
Enquanto você es-bafora
fumaças acinzentadas pela janela
um judeu budista ecoa sua
anasalada voz pela
azulada sala
vazia
onde o luar
faz sua morada.
Nem a dura madeira
de uma cadeira velha
me faz deixar de
contemplar
todos os momentos
do seu corpo.
Lábios
beijaram
nossos
corpos
ao longo
dos dias
passados
antes de todos nós
& nossos desejos
amores & decepções.
Todo o mistério
desvelado
para outrem
que não
nós.
Para onde escoam
todas as curvas
dos nossos corpos
suados
ao longo desses tempos?
Sempre me comportei
como um garoto
desajeitado
diante de toda
maturidade
do seu desejo.
Não me encaixo
tão bem
dentro de sua coxa
como eu gostaria
- não sou mais jovem -
porém continuo desajeitado.
Sou um gato
fora
de uma caixa
arranhada
cansado de brincar
com a moldura eterna
do seu largo sorriso.
Ando cansado
e trôpego
cambaleando
com tornozelos
(re)torcidos
pelo destino
e passeios esburacados
com paralelepípedos esfacelados.
Talvez esteja na hora de um desajeitado adeus,
nunca fui bom com despedidas.
Enquanto você cantarola
que não é assim que deveríamos
abandonar-nos
à deriva numa nau desenfreada,
eu mergulho a bombordo
do meu coração
e perco o fôlego.
Não consigo vir a tona
respiro o líquido
salino
que minhas fossas
confundem
com um mucoso nariz
fungante e adunco
partido em mil
como nosso
sussurro
de mãos
atadas
turbilhão
adentro.


Rodrigo Chagas
21/09/23.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Tenho cada segundo
vivo
em
meus poros
direciono-me
para o campo
em silêncio
os pássaros
gor-gorjeiam
como
gralhas
roucas
grasnam
tão alto
até sua voz calar-se
nem ao menos tentamos
- de novo -
pela enésima vez
fracassar
a
todos os erros
anteriores
que nós
sabíamos
que cairiam
em vão
dos meus punhos
partidos
em rostos
desconhecidos
na penumbra
da escuridão
você nem quis ouvir-me
dizer
desculpa
novamente
ouvi o - seu - silencioso
adeus
ecoando
pelos
becos
&
vielas
das escadas partidas
de
azulejos
escarlates
de rubro sangue
Tento
de
maneira derrotista
escrever
mas tudo
a mim
abandona
as ideias
as canções
o triunfante
final que nunca vem...
no meu próprio
pesadelo
sonho com seu corpo
chacoalhando minha
mente
meus quadris...
os lençóis amarelos
voam pela janela
quero a tudo abandonar
meus pulsos prendem
panos rasgados
em cordas dilaceradas pela tormenta
talvez um outro dia
eu tente o fracasso
novamente.

Rodrigo Chagas
26/08/23  

terça-feira, 25 de abril de 2023

Escápula


Você não deu o ar da graça hoje.

Fiquei surpreso. 

Desconcertado...

Soquei o ar com tanta força que minhas lágrimas deslocaram minha omoplata.

Doeu mais toda a solidão do salão vazio
do que urrar ao chocar meu ombro contra a parede desmembrada.
...E nada voltou ao normal.

O telhado de zinco começou a uivar com a chuva a cântaros.

Saio na tormenta sem medo de me encharcar.
...Meus sapatos fazem um barulho engraçado ao caminhar...

Não enxergo as luzes dos carros por causa da minha distrofia.

Não há nada de divertido e poético nessas linhas desgrenhadas.

Tenho sido nocauteado pelo tempo,
derrotado pelas minhas próprias mãos,
Que não conduzem como deveria 
- o poema -
& a fuga nos meus óculos embaçados...
que a tudo...escondem.

Rodrigo Chagas
26/04/22.

segunda-feira, 27 de março de 2023

1 poema abandonado que nunca acabei


Após vc ter me deixado na estação de metrô

- do centro velho da cidade -

enquanto a chuva começava

a sua força 

segurei o pacote pardo

de pão

amarrado com um grosso barbante amarelo...

eu sabia de tudo que ia suceder


Você havia lido isso num poema

antigo que escrevi...


Uma formiga carregava um fardo maior que o meu

mas eu sentia o peso da chuva

- ainda fina -

cair sobre os meus ombros...


Rodrigo Chagas

10/06/22

domingo, 5 de junho de 2022

Tenho acordado tão cedo
antes do seu despertar
e do seu sorriso
de dentes irregulares...

Caminho 
- descalço -
entre os gatos
& o chão frio
acimentado

Gotículas...
milhares delas
caem no - quase - 
frio
firmamento
soteropolitano
tão distante de La Paz
tão distante de vc

Sua pequena cama
tão diminuta quantos
suas minúsculas mãos
ainda evapora
o meu desejo
não completado 
pelo seu corpo

Escovo os dentes
com a escova
que encontrei nas coisas encaixotadas
que vc apontou na noite anterior

tento engolir o café
e as coisas que vc me disse...

molho o rosto...
pego a sombrinha despedaçada
e os cacos do meu músculo torácico partido em miúdas partículas...

calço as botas
coloco esse poema no bolso
desaparecemos sob o céu cinza
tentando pensar em algo melhor para finalizar o que escrevinho
e vê-la gargalhar novamente...

a luz avermelha-se
o ônibus embaça minhas lentes
meu peito sufoca...

você docemente 
dorme na cama
em que eu desejava estar...
tenho sido a manhã
e vc a madrugada...
tão distantes...

Amanhã...volto com a chuva e as trovoadas
tão difícil abandonar esse poema
quanto acabar com você...

Rodrigo Chagas
05/06/22

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Texto que saiu no Site Olho Público.

Em setembro passado, fui convidado pra escrever uma coluna quinzenal no site "Olho Público", infelizmente o site logo parou e o projeto ficou só no 1o texto, abaixo coloco o texto que foi publicado no site, só troquei no lugar de "mastigando um charuto", coloque "mastigando uma cigarrilha", pois Hunter usa cigarilha, não sei porque cometi este equívoco, mas taí o texto da coluna:


"Sputter topa escrever uma coluna para o Olho Público?"

Foi assim o convite.

Aceitei na hora.

"Claro! Será uma honra, 'tiro de letra´, escrever sobre qualquer coisa é comigo mesmo...e a periodicidade é escolha minha? Pelo menos quinzenalmente? Oxe...só se for agora".

Pois "me enganei", a primeira coluna não seria isso que vos escrevo, seria outra cousa, logo eu que nunca me atraso em compromissos (teoricamente não me atrasei, estou aqui, tão vendo?), embora muita gente pense o contrário sobre isso...mas sempre faço tudo no prazo...quer dizer...acho eu...

Não foi um medo congelante que me paralisou, nem uma procrastinação ad eternum (o que seria um pleonasmo certo?)...o que foi que se aconteceu?

Não sei ao certo...viver "pequenos" momentos de prazer...perda de tempo em coisas fúteis (outro pleonasmo?)...vai saber...mas não rolou o que eu pensava...para a próxima coluna irá rolar?

Quem sabe...será melhor que essa? + original...quem sabe...outra dose por favor...eu que nem sou de beber...e nem de atrasar nas entregas...sou um tipo de "Pony Express" do sertão baiano...porém que na verdade vive a léguas & léguas de qualquer tipo de caatinga...vivo a beira mar praticamente...vigiado pelo Senhor do Bonfim...logo ali na colina sagrada...essa alegoria sertaneja não serve...sou mesmo um atemporal da cidade-baixa...bukóliko...mas não um atrasa lado...e nem coluna...eis aqui...ela...

Penso em Hunter Thompson, com uma viseira de poker, mastigando uma cigarrilha no canto da boca, chapado, dentro de uma banheira...bebericando algo...cortando toranjas...aqui em casa tem uma banheira verde...que não uso há uns 20 anos...não sou um hipster datilografando essas palavras...uso laptop...não possuo uma colt 45 para atirar nos morcegos imaginários Thompsianos...nem sou a favor de armentos & etc...gostaria de ver o que Hunther ou William Burroughs falariam para defender as armas...certamente eles colocariam de forma poética...porém não nasci no meio de cowboys e guerras geracionais...nem posso bebericar nada...hoje tomei hoje a minha 2a dose da Pfizer...dizem que não é bom beber...aliás...nem um grande bebedor eu sou...um sacrilégio falar isso no mesmo "parágrafo" onde cito Mr. Thompson...mas seria uma boa brindar a esse momento...que fora emocionante...peguei a bike...sai de Roma (em Salvador-Bahia mesmo), pedalei pela Calçada (o bairro, não em cima do passeio...se bem que passeio é só aqui na Bahia, em outros locais é denominado de calçada, e nessa cidade Soterópolis é também um bairro)...passei pelo Comércio, subi o Túnel Américo Simas...continuei pela Barroquinha (perto da Baixa do Sapateiros, onde a morena + frajola da Bahia negou um beijo ao velho Ary...Barroso)...e finalmente adentrei a nova Fonte Nova...que emoção...eu que não perdia um jogo do Esporte Clube Bahia nessa cidade desde Abril de 2016, não adentrava no estádio desde o começo da pandemia...que emoção...o verde campo...a vacina...o SUS (viva)...#forabolsonaro...poder estar mais seguro contra um vírus (& o desgoverno) que levaram centenas de milhares de pessoas nesse país...e no mundo...não pude brindar com uma cerva...nem como um gol...mas foi emocionante....

Estou aqui...às quase 4 da matina...careca que nem o Hunter...ficando velho...esperando o dia raiar para essa coluna sair...esperando dias menos piores do que os antes da terrível pandemia...poder sair as ruas...tocar...bater um baba...ir num jogo...encontrar as pessoas...viver um pouco...lembro do grande João Antônio, cujo livro "Todos os Contos", que paira na minha estante, lançada pela extinta Cosac Naify (aliás esse livro tá tão caro quanto o preço da gasolina, porém tá mais "barato" do que dantes, a cultura baixa...a gasolina não, mas eu ando de bike mesmo)...penso no que o grande mestre João falaria agora..."Saia da redação, ponha uma bermuda...sinta os pés na areia...procure um boteco aberto...sempre tem um...beba uma dose...não esqueça a do santo...toma uma cerva...celebre a escrita e a vida"...

Vou tentar mestre Antônio, só que a essa hora...sair pela cidade-baixa, procurando um boteco aberto...não é para os fracos que nem eu...vou usar a vacina como desculpa...celebro a vida...e fiquem com as letras aqui...as palavras...semana que vem...ou na outra...procurarei escrever algo e colocarei aqui...assim espero...estar aqui...e você também!


Rodrigo Chagas 14/09/21