sábado, 4 de dezembro de 2021

As Mercenárias.

Em Março desse ano, minha grande amiga, Sandra Coutinho, que dentre muitas coisas na música foi baixista da lendária banada paulista, As Mercenárias, me pediu para escrever um texto sobre a banda, pois ia sair na Europa um disco delas, na verdade não sabia que ia ser um relançamento em Vinil do 1o disco delas...sábado passado, ela me enviou um áudio dizendo que saiu o vinil e me enviou uma foto da parte do encarte...disse também que minha cópia está guardada, vou ver como será a logística de trazer esse vinil de SP para Salvador...eu fiz o texto creio que em cinco minutos...sentei e escrevi e nem revisiei...enviei para ela, abaixo eu nem revisei, apenas corrigi alguns erros de digitação...queria colocar aqui como ele - o texto - veio num fluxo de ideias...O Vinil saiu num selo espanhol, colocarei o link do selo gringo abaixo...achei que o texto sairia em espanho, mas na verdade saiu em inglês, eu havia pedido que me enviassem o texto para eu dar uma lida na tradução...porém isso não aconteceu...espero que não tenham comprometido a ideia...depois, quando o vinil chegar, darei uma olhada no texto...espero que gostem.


Link do Selo para quem quiser comprar o vinil, soube que o Selo Paulista, Baratos Afins (que lançou o vinil original em 1986), vai vender aqui no Brasil, mas não tenho o link deles, vai o gringo mesmo: 

https://www.forcedexposure.com/Catalog/mercenarias-cade-as-armas-lp/BEAT.083LP.html


E Abaixo vai o texto sobre As Mercenárias que escrevi:


Há anos Sandra Coutinho e eu "travamos" uma conversa "As Mercenárias eram Punks ou não"?

E a resposta desse questionamento poderia virar um livro, uma tese, um artigo.

Outra questão polêmica passados quase 40 anos desse álbum de estréia que vocês têm em suas mãos num relançamento "Importa se elas eram punks ou não?".

Uma resposta negativa para a pergunta acima "invalidaria" a lista (listas sempre polêmicas) de uma famosa revista brasileira que colocou esse disco entre os 5 melhores discos punks brasileiros?
É uma lista que vai validar a "punkitude" ou não da banda?

A importância da banda fica acima de ser ou não punk...eis a questão.

Uma coisa é certa a banda é de uma importância pro rock brasileiro (seja ele underground ou não), aliás não somente no âmbito nacional, mas também no internacional.

Não vou entrar no importante mérito de serem mulheres fazendo um puta som num época que isso era ultra raro, uma banda só de mulheres, ainda mais ultrapassando os estereótipos "femininos" (musicais ou não) da época.

Esse ábum (aliás dia desses li em algum lugar que era um EP e não uj LP, outra "catalogalização" desnecessária) é importante pela influência que ele trouxe pra época, pra cena musical, o choque sonoro e estético que trouxe. Porque é um álbum que não envelheceu um segundo sequer nessas quase 4 décadas (As letras então, ainda continuam atuais - não sei se isso é bom ou ruim...pois mostra que não evoluímos...se formos contar com a atual "política" brasileira, retrocedemos...e muito! Então é triste ver que letras que atacavam coisas reacionárias em 1986 possam ser ouvidas e como se fossem escritas ontem, porque pensávamos que no século XXI algumas coisas conservadoras seriam chutadas pelo traseiro esgoto abaixo...mas por outro lado as pessoas mais jovens podem saber que haviam pessoas que sempre estiveram lutando contra a corrente, por mais liberdade, contra o conservadorismo...estético, musical, político).

Sandra Coutinho contou-me que o público da banda era um pouco diferente das bandas punks daqueles anos 1980 em São Paulo, não que os punks não colassem no show e gostassem da banda, mas eram cenas, pessoas, públicos "diferentess". Porém as letras vorazes (e também poéticas) da banda tocavam de uma forma forte o público de uma forma, que muitas bandas ditas punks não conseguiam verbalizar em palavras. A força das músicas ao vivo tinha essa pegada mais forte, soando mais crua, com energia - e atitude - rocker, e o punk sempre procurou pela verdade e "crueza" das bandas, que jogasse a hipocrisia pra longe e colocasse pra fora toda aquela angústia reprimida, fosse ela nas canções ou no pogo.

Creio que o "rótulo" punk veio com o lançamento do disco e sua divulgação nacional (embora uma banda alternativa o disco teve uma boa aceitação na cena underground), na audição do disco com letras atacando a hipocrisia religiosa, violência policial, vári@s jovens ao ouvir aquilo, sentia-se representad@ nas letras...e o movimento punk já eclodia em praticamente todo território nacional, muitas bandas fazendo covers de "Santa Igreja", "Polícia" (que qualquer pessoa do subúrbio periferia vai se identifcar), além da fantástica canção de abertura "Me Perco Nesse Tempo", que certamente representava em música toda uma angústia sem esperança da juventude, mas com uma vontade de mudança, mesmo não sabendo em que direção seguir.

Com essa força musical e literária @s jovens punks no Brasil começaram a "adotar" a banda como sua, pois não viviam em São Paulo e não sabiam como era a cena punk lá, mesmo que conhecessem, não vivenciassem de perto como era a cena local na capital paulista. Foi assim que no começo dos anos 1990 eu conheci a banda em Salvador (Bahia). Andava com os punks locais e quando perguntei sobre a banda, que eu ouvia falar, mas não tinha tido acesso ao material, uma amiga falou pra "tenho certeza que você não ouviu, mas vai gostar, as meninas são foda", ela tinha razão, ouvi e pirei na banda.
Nunca havia me preocupado se eram punks ou não, mas que era uma banda incrível, e ao escutar o disco você sente outras influências musicais, mesmo que seja pós punk, mas eu gostava da banda pelo que a banda era, pelas suas canções e pela veracidade (e voracidade) que a banda trazia em si.

Comentei no começo do texto que eu e  Sandra Coutinho conversamos aos longos dos anos sobre "Ser ou Não Ser Uma Banda Punk", e para mim isso é complicado dizer que sim ou que não. Afinal um blues sujo e antigo pode ser mais punk , marginal, que uma banda punk atual.

No segundo disco da banda você escuta outras experiências sonoras, musicais, mas sem perder a veia rocker da banda, porém esse é um texto sobre o primeiro disco da banda, texto esse que não abrange a totalidade da importância musical e estética do disco de sua época até os dias atuais.

Deixo essa pergunta pra você responder...ou não...o que importa é ouvir, sentir, o disco...as canções!

Ouça! Ouça!

Sinta!

Isso é o que importa!

Escute as canções enquanto existimos...pois não sabemos quando vamos nos perder nesses tempos insanos em que sempre Vivemos.

Rodrigo "Sputter" Chagas
(Vocalista da banda The Honkers)
19/03/21