domingo, 5 de junho de 2022

Tenho acordado tão cedo
antes do seu despertar
e do seu sorriso
de dentes irregulares...

Caminho 
- descalço -
entre os gatos
& o chão frio
acimentado

Gotículas...
milhares delas
caem no - quase - 
frio
firmamento
soteropolitano
tão distante de La Paz
tão distante de vc

Sua pequena cama
tão diminuta quantos
suas minúsculas mãos
ainda evapora
o meu desejo
não completado 
pelo seu corpo

Escovo os dentes
com a escova
que encontrei nas coisas encaixotadas
que vc apontou na noite anterior

tento engolir o café
e as coisas que vc me disse...

molho o rosto...
pego a sombrinha despedaçada
e os cacos do meu músculo torácico partido em miúdas partículas...

calço as botas
coloco esse poema no bolso
desaparecemos sob o céu cinza
tentando pensar em algo melhor para finalizar o que escrevinho
e vê-la gargalhar novamente...

a luz avermelha-se
o ônibus embaça minhas lentes
meu peito sufoca...

você docemente 
dorme na cama
em que eu desejava estar...
tenho sido a manhã
e vc a madrugada...
tão distantes...

Amanhã...volto com a chuva e as trovoadas
tão difícil abandonar esse poema
quanto acabar com você...

Rodrigo Chagas
05/06/22

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Texto que saiu no Site Olho Público.

Em setembro passado, fui convidado pra escrever uma coluna quinzenal no site "Olho Público", infelizmente o site logo parou e o projeto ficou só no 1o texto, abaixo coloco o texto que foi publicado no site, só troquei no lugar de "mastigando um charuto", coloque "mastigando uma cigarrilha", pois Hunter usa cigarilha, não sei porque cometi este equívoco, mas taí o texto da coluna:


"Sputter topa escrever uma coluna para o Olho Público?"

Foi assim o convite.

Aceitei na hora.

"Claro! Será uma honra, 'tiro de letra´, escrever sobre qualquer coisa é comigo mesmo...e a periodicidade é escolha minha? Pelo menos quinzenalmente? Oxe...só se for agora".

Pois "me enganei", a primeira coluna não seria isso que vos escrevo, seria outra cousa, logo eu que nunca me atraso em compromissos (teoricamente não me atrasei, estou aqui, tão vendo?), embora muita gente pense o contrário sobre isso...mas sempre faço tudo no prazo...quer dizer...acho eu...

Não foi um medo congelante que me paralisou, nem uma procrastinação ad eternum (o que seria um pleonasmo certo?)...o que foi que se aconteceu?

Não sei ao certo...viver "pequenos" momentos de prazer...perda de tempo em coisas fúteis (outro pleonasmo?)...vai saber...mas não rolou o que eu pensava...para a próxima coluna irá rolar?

Quem sabe...será melhor que essa? + original...quem sabe...outra dose por favor...eu que nem sou de beber...e nem de atrasar nas entregas...sou um tipo de "Pony Express" do sertão baiano...porém que na verdade vive a léguas & léguas de qualquer tipo de caatinga...vivo a beira mar praticamente...vigiado pelo Senhor do Bonfim...logo ali na colina sagrada...essa alegoria sertaneja não serve...sou mesmo um atemporal da cidade-baixa...bukóliko...mas não um atrasa lado...e nem coluna...eis aqui...ela...

Penso em Hunter Thompson, com uma viseira de poker, mastigando uma cigarrilha no canto da boca, chapado, dentro de uma banheira...bebericando algo...cortando toranjas...aqui em casa tem uma banheira verde...que não uso há uns 20 anos...não sou um hipster datilografando essas palavras...uso laptop...não possuo uma colt 45 para atirar nos morcegos imaginários Thompsianos...nem sou a favor de armentos & etc...gostaria de ver o que Hunther ou William Burroughs falariam para defender as armas...certamente eles colocariam de forma poética...porém não nasci no meio de cowboys e guerras geracionais...nem posso bebericar nada...hoje tomei hoje a minha 2a dose da Pfizer...dizem que não é bom beber...aliás...nem um grande bebedor eu sou...um sacrilégio falar isso no mesmo "parágrafo" onde cito Mr. Thompson...mas seria uma boa brindar a esse momento...que fora emocionante...peguei a bike...sai de Roma (em Salvador-Bahia mesmo), pedalei pela Calçada (o bairro, não em cima do passeio...se bem que passeio é só aqui na Bahia, em outros locais é denominado de calçada, e nessa cidade Soterópolis é também um bairro)...passei pelo Comércio, subi o Túnel Américo Simas...continuei pela Barroquinha (perto da Baixa do Sapateiros, onde a morena + frajola da Bahia negou um beijo ao velho Ary...Barroso)...e finalmente adentrei a nova Fonte Nova...que emoção...eu que não perdia um jogo do Esporte Clube Bahia nessa cidade desde Abril de 2016, não adentrava no estádio desde o começo da pandemia...que emoção...o verde campo...a vacina...o SUS (viva)...#forabolsonaro...poder estar mais seguro contra um vírus (& o desgoverno) que levaram centenas de milhares de pessoas nesse país...e no mundo...não pude brindar com uma cerva...nem como um gol...mas foi emocionante....

Estou aqui...às quase 4 da matina...careca que nem o Hunter...ficando velho...esperando o dia raiar para essa coluna sair...esperando dias menos piores do que os antes da terrível pandemia...poder sair as ruas...tocar...bater um baba...ir num jogo...encontrar as pessoas...viver um pouco...lembro do grande João Antônio, cujo livro "Todos os Contos", que paira na minha estante, lançada pela extinta Cosac Naify (aliás esse livro tá tão caro quanto o preço da gasolina, porém tá mais "barato" do que dantes, a cultura baixa...a gasolina não, mas eu ando de bike mesmo)...penso no que o grande mestre João falaria agora..."Saia da redação, ponha uma bermuda...sinta os pés na areia...procure um boteco aberto...sempre tem um...beba uma dose...não esqueça a do santo...toma uma cerva...celebre a escrita e a vida"...

Vou tentar mestre Antônio, só que a essa hora...sair pela cidade-baixa, procurando um boteco aberto...não é para os fracos que nem eu...vou usar a vacina como desculpa...celebro a vida...e fiquem com as letras aqui...as palavras...semana que vem...ou na outra...procurarei escrever algo e colocarei aqui...assim espero...estar aqui...e você também!


Rodrigo Chagas 14/09/21