quarta-feira, 15 de julho de 2020

Verão em Salvador (Conto).

Um dia vi um pivete morrer carbonizado no farol da ponta do Humaitá, menos Pedrinho, que na hora tava chupando o pau de um moço pra ganhar um picolé de chocolate e Carlos que tava medindo o tamanho do seu pinto, porque no muro tinha pixado "Sabia que todo gordo tem pica murcha?", Carlinhos nem gordo era, mas se alguém falasse "quem peidou tá com a mão amarela" ele iria olhar a palma de suas mãos por curiosidade...pessoas assim chegam longe.


O guri carbonizado foi a coisa mais horrenda que já vi na vida, fedia pra porra, fiquei meses sem comer carne assada, frita, quase virei vegetariano, mas carne era coisa de barão e quando tinha em casa era uma festa, eu pedia pra minha mãe cozinhar, ela era uma boa mãe e fazia de bom grado. 


Ela, minha mãe, vivia dizendo "menino, cuidado com essas caídas no Humaíta, eu já vi gente ficar aleijado naquelas pedras e Mariinha disse uma vez que o filho do primo do vizinho dela lá de Cajazeiras X morreu todo queimado, parecia um peixe frito...Deus é mais"...coisas de mãe...ela nunca deu uma caída massa no mar, fazer uma pirueta, inventar uma pose, um grito e depois cair na água, de cabeça, de bomba, em pé, só era feio cair de barriga, uma vez a pancada foi tão forte que um amigo se mijou todo. Era massa dar caída, mas eu tinha um medo danado de subir no Farol...ficava ali no muro no máximo porque era muito alto e pulava de bomba, encolhia os joelhos na barriga, botava a cabeça no meio das pernas e tchibum...fazia um barulho retado...podiam me chamar de menino amarelo, mas eu num caia de outro jeito, num sabia, não ia inventar moda, nem me mijar nas calças. 


Eu falei pro cara "menino, não suba aí não, você pode morrer eletrocutado, esse farol tá cheio de fio", mas uma galera subia e metia o pé num buraco onde tinha uns fios e a electricidade passava pro Farol, de noite era uma coisa linda, iluminava tudo, o mar, o céu, as estrelas...quando o pivete meteu o pé no buraco, foi um estrondo, um clarão, parecia São João e a zorra, saiu tudo quanto era faísca, foi gente correndo pra tudo quanto era lado...Pedrinho parou de chupar o pau do cara (pelo menos ganhou o dinheiro do picolé)...Carlinhos escondeu o pinto dentro do calção, e todo mundo foi lá correndo ver o menino ainda saindo fumaça...horrível...uma agonia retada até o Nina chegar com o carro pra pegar o corpo...coitado...fiquei um bom tempo sem dormir direito, foi aí que eu aprendi a dormir de luz apagada, a conta veio mais barata e tudo.


Os caras do bate-estaca disseram uma vez que Pedrinho trocou o cu pelum ferrorama, quando foi passar as férias na casa de um primo rico...não duvido...tenho certeza que Pedrinho ia dizer "o que é um cu pelum ferrorama?? Ferrorama dá pra brincar todo mundo, juntar a galera"...Pedrinho num era casquinha, dividia tudo, no dia lá do picolé de chocolate (que o menino morreu) todo mundo deu uma chupadinha...lembro que a gente brincou muito com o ferrorama, era uma folia danada...juntava era menino, até menina ia brincar...todo mundo, sem distinção.

Nunca mais vi Pedrinho, Carlinhos sei que virou cientista, vive com a cara num microscópio, vejo ele direto quando vou na fonte nova, nos vemos pouco, mas ainda somos amigo, um cara legal...

A galera do jardim cruzeiro disse que Pedrinho casou com uma menina feosa da Barra, porque era barona e tinha uma casa gigantona, toda chique, tinha até campo de futebol, eu acho que é inveja desses caras...se fosse verdade tenho certeza que ele reuniria a turma toda e ia chamar a gente pra tomar banho de piscina.

Rodrigo Chagas

25/04/19

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Era esse o comentário?
      Hehehehe

      Eu achando que era um comentário grandão...hehehe


      Abraços meu velho

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