terça-feira, 11 de janeiro de 2011

+ 2 Poemas de um dia só:

A chuva cai fina pela manhã
no jardim em frente a minha casa.
Pelo vidro da porta
observo as gotas tocando
as pequenas folhas verdes.
Não há culpa em mim.
O arrependimento não povoa minha mente,
nem em meu ser.
Não sinto a culpa cristã
pelos erros que cometi.
Se o criador está morto,
tudo me é permitido.
Foi o que disse aquele escritor russo
e certamente inspirou
o alemão com grandes bigodes
que a sífilis devastou a alma.
O sol aparece e toca o pálido corpo inerte na varanda.
Eu o observo,
na sua beleza cadavérica.
Branco como a pele de cordeiro.
Nas minhas mãos o sangue escorre
como nas daquele jovem russo
num velho - e longo - livro
que repousa empoeirado na minha estante.
 

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Eu gosto quando as nuvens
passam pelo sol e o dia escurece...
e meu quarto fica na penumbra.
Não é a questão de preferir a escuridão.
É a sensibilidade dos meus olhos.
Acostumados a sombra e a obscuridade.
Ultimamente prefiro também as canções
escuras e negras.
Há nelas algo que a branquidão das nuvens
não conseguem alcançar...
Talvez por causa do sofrimento
e esquecimento daqueles que passaram
a vida à deriva...na margem, na borda fina...
na verdade não é uma questão
de pele ou cor...
O blues toca-me como as nuvens
e o luto me veste de preto.


Rodrigo Chagas
20/02/2006.

 

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