terça-feira, 11 de janeiro de 2011

One more night at Downtown.

Ao som de "pretty girls make graves", do The Smiths.

Dean estava no bar sentado, pensando naquela garota e como era louco pensar nela...como podia amar uma guria que mal conhecia e jogar tudo para cima por causa dela??????


"é...realmente sou louco mesmo, agora tive a prova disso. É bem provável que algum enfermeiro abra essa porta e jogue uma camisa de força em cima de mim.....eu não ficaria surpreso se ele fizesse isso...", pensou Dean.
Pagou a conta e saiu do boteco, a noite estava fria e ele fechou o casaco. A velha Downtown estava lá e era só dele, mais uma vez, aquelas ruas desertas - e como ele as amava.


Dean vivera a vida toda lá e espera morrer lá, era na Downtown que ele sentia-se forte e vivo, não em NY, nem SP, nem RJ, ou outra cidade qualquer, nem mesmo Salvador era legal, apenas a Downtown - e precisamente sua casa. Mas aquela guria aparecera na sua vida, ela realmente gostava dele, o achava inteligente e gostava das mesmas coisas que ele e isso não era normal, as pessoas odiavam o que ele amava, o que ele ouvia, lia e assistia. Odiavam seu topete, suas costeletas e suas roupas, ele não as odiava - as pessoas. Ele tava tampouco se lixando para elas, mas gostava de conversar com elas e saber um pouco do mundo delas... mas aquela garota...
Ah!!! Ela sim era realmente interessante, ela sim é que valia a pena de viver, por ela faria tudo, ou pensava que faria, mas deixar a Downtown era como deixar para trás a bomba que jorrava sangue no seu corpo, ele morreria fora da sua maldita cidadezinha, sim diria até que seria um peixe fora d´água, mas de uma água suja e fétida que era a Downtown, mas ele a amava - e amava a guria também.


"Você gostaria de visitar a Downtown? Andar nas ruas q ando, sentar na cadeira velha de balanço e ouvir velhas canções de dor e amor? Ver as ruas que cresci, joguei bola e passeei com meus amigos em noites alcoólicas e solitárias???? Não, você não viria, pois afinal de contas quem sou eu??? Um guri qualquer de uma cidade qualquer, uma cidade suja onde todos foram esquecidos.... Eu a chamaria p/vir até aqui, mas vc não viria...eu sei, não a culpo por isso...a culpa é minha por ser um retardado e viver nessa merda...é isso q sou mesmo, um retardado de merda...".


Dean chegou em casa, ligou o som e ouviu Tom Waits cantar, saberia que ao acordar pela manhã ela não estaria lá, na poeirenta Downtown, não teria ela, nunca teria aquela guria que estava crescendo em sua mente, talvez ela nunca existisse, assim como ele, que não existia, e como um covarde vivia num mundo paralelo que ele mesmo criou e por isso vivia solitário até hoje. Sim ela a amava... e amava sua cidade suja... o sofá pareceu confortável... pelo menos quando dormisse e ela aparecesse nos seus sonhos ele poderia tê-la e andar nas ruas solitárias e vazias da velha cidade esquecida....

Rodrigo Chagas, 2001.

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