terça-feira, 11 de janeiro de 2011

21/10/09




Tem uma pasta de dente
aqui no banheiro
que minha irmã comprou ontem,
no mercadinho aqui da rua.
É de um forte azul
- intenso,
escuro,
marinho -
parece tinta guache,
lembra-me
um vidro de tinteiro
para canetas
Parker
que eu comprava pra meu pai
quando criança
num armarinho aqui perto,
na papelaria não tinha...
É de uma coloração/textura
fascinante,
embriagadora,
me força,
hipnotiza-me,
a usá-la.
É cada coisa estranha
que levamos a boca.
Diz na embalagem
que os meus dentes ficarão
mais brancos,
brilhantes,
mas isso nunca aconteceu,
e não irá jamais ocorrer,
tudo enganação,
me lembra
essas pencas
de religiões
que encontram-se
agora
nos lugares
de cinemas,
teatros,
televisões...
Em todos os ambientes
e templos,
sem exceções.
Vendem
esperanças
branqueadoras
não importa o preço,
só a - eterna - espera.
Enquanto a escova
circunda meus dentes,
gira em seu redor,
grunho um refrão
de uma antiga canção,
que somente eu reconheço,
nesse barulho estranho que faço.
Vou relembrando as coisas que você
me falou,
que conversamos ao longo desses anos...
Estou cansado de recordações,
resolvo mais uma vez
ficar pra esta noite,
mais escura
que a cor azul intensa
que cuspo pelo ralo da pia.
Abro a torneira
e não há água para
lavar a sujeira azul celeste escura.


Rodrigo Chagas.
21/10/09.

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